Estação

Minha estação é a morte.

A seu lado floresço, crio raízes,

finco meus ossos na terra seca.

Minha florescência é bela,

mas tem sido de pedras.

Sei que quando ela chega,

sou menos flor e mais montanha.

Não falo para confortar.

tampouco para agradar.

Minha estação é a morte.

Quando meus trens estancam,

sei que estou nela.

A velocidade atravanca,

os pés já não querem sentir o asfalto e

as janelas todas se abrem, num átimo.

Os trens estacionam em mim - eu consinto -,

mas meu silêncio solta fumaça;

eu já acendi um cigarro,

as entranhas devem permanecer superaquecidas,

mas meu silêncio também enferruja as engrenagens.

Quando minha voz range, sei que ela está comigo.

Quando o maxilar pesa, sei que ela está comigo

e que, de certa forma, a prendi em mim.

A morte tem sido minha estação

e quando meus trilhos se entrelaçam

numa sinfonia de metais corroídos,

sei que ela está em mim

criando redemoinhos de bronze.

E se dissolvo em lava,

sei que ela está por perto

com um espelho virado para o sol.

A morte é minha estação.

Eu nunca apenas passo por ela;

ela sempre me para com um chamado

e quando paro

ela está em mim e eu estou nela.

E por mais que eu cavalgue,

corra descalça ou nade,

sei que ela plantou em mim

um trem desenfreado sem rumo nem fim

que apenas irá cessar

se a minha ponte quebrar.