ô, psit!
quero falar
de um tempo
que, de tão difícil
do próprio tempo
vivíamos à espera
tempo de quando
na falta de respeito
realmente nos dávamos mal
tempo de quando
a coca-cola
a coca-cola
(assim como o direito)
era um artigo de luxo
: só no Natal
quando havia fila para tudo
para o inamps
para a carne
para o leite
para o gás
para o mundo
o mundo, até ele mesmo
corria o risco de também
ficar para trás, às dúvidas
das crianças, como a que eu era
de poucos sonhos
de cabeças quentes
com a tal fria guerra
e ninguém sabia
para aonde se, e se
se ia
enfim,
o domingo chegava
e tudo
tudo parava
pois, aos sorrisos
íamos todos para a frente
de alguma tevê
lembro bem das gargalhadas
de todas as idades
depois de um certo sujeito
soltar seu bordão
- Nojento!
ele era um dos tantos
que abriam as cortinas
e os nossos corações
quando começava
o sério trabalho
daqueles mestres palhaços
que se chamavam
Os Trapalhões
23/3/2001