Renovação de um poeta
I
Ao te ver sair por aquela porta
eu fiquei sentado ali no chão
vi-te partindo sem querer assumir
a realidade daquele momento
de ter que ver cada impressão sua
em mim se desfazendo
à medida que você percorria seus passos
naquela paisagem da sua triste partida
até você virar um pequeno ponto
e eu não te enxergar mais pela estrada
fechou-se, então, a porta do meu coração
quis permanecer ali no chão
como uma pintura morta
em seus traços mórbidos
sem nenhuma emoção
o retrato de uma pintura mal acabada
numa tela desmanchada
II
Mas uma nova inspiração adentrou
por aquela mesma porta
em que eu te vi sair
numa arte inesperada
em novos traços
misturei cores, dei pinceladas
a meu próprio gosto
dei vida àquela pintura morta
e contemplei uma nova paisagem
que foi abrindo aos poucos
a porta do meu coração
até eu me erguer do chão
de uma tela estática,
sua partida foi também a causa
de se abrir outra janela para o mundo
minha vida em novos quadros
poesia revigorada
da renovação de um poeta
que por um tempo esteve mudo
numa pintura mal acabada