RABISCOS POÉTICOS DE UM CARA TRISTE E DECEPCIONADO
SONETO DA TRAGÉDIA
Sinos dobram, água corre
Entra ano, o tempo passa
Beira-rio, alguém morre
Afogado, na cachaça
Era tarde, era festa
Tempo cinza, mas sem chuva
Lembro disso, nada presta
Nem banana, nem a uva
É o amargo da saudade
De um amigo que partiu
Essa dor ainda me invade
Chora peito juvenil
Foi tragédia, de verdade
Para sempre ele dormiu
DERRADEIRA CONSTATAÇÃO
Eram quatro cavaleiros
Morte, fome, peste e guerra
Simbolizam o final
De uma história sobre a Terra
Na harmonia da fanfarra
A ilusão da vida eterna
Nos acordes da guitarra
A entrada da caverna
De um buraco supernegro
Sugador das esperanças
De um messias salvador
Renegado nas lembranças
Só trazia luz ao mundo
Preferiram a escuridão
Mas o fogo e os gafanhotos
Trazem a exterminação
Pobre homem, tão estúpido
Ser insignificante
Na grandeza do universo
Grão de areia ignorante
INDAGAÇÕES
Entre jacarés desdentados
E irrisórios pterodátilos
Surgem perenes roedores
E hematófagos alados
Lá na aldeia, crise instalada
Quem ganha? Quem perde? Não sei
Só sei que este mundo evolui
Apesar do tom da balada
Porém, algum tempo depois
Primatas desceram das árvores
Corriam atrás de comida
Souberam juntar dois mais dois
Criaram a net e o celular
Pensaram que eram os reis
Senhores do bem e do mal
Destruíram seu próprio lar
Pra onde caminha o futuro?
Será que existe o futuro?
Que seres irão suceder
Esse mamífero anuro?