Meteoro falido

Quero te avisar dos meus avessos.

Alguns voaram longe, sei lá pra onde.

Outros se misturaram às minhas mãos

e viraram uma gosma sem eira nem beira.

Quero te falar das minhas feridas.

Algumas não sei pra que servem.

Outras são minha mais prosaica tradução.

Quero te falar dos meus quebrantos

bodegas pra Exú aconchegar e fazer sua festa,

mas você não deixa, nem poderia.

Sou escasso neste escapulir primaveril.

Tenho sede de carne, carne embrenhada de

poréns e deixa disso.

Tenho fome de almas que não sejam lépidas,

mas que me façam ir ao topo. Rir ao topo por certo.

Tenho gana de ter músculos desencarnados

gritando por todos meus santos.

Tenho sorte de ser rastro que você apaga

com o pé e fica nisso. Sabia?

Sei bem que você pensa que estou à deriva

num torpor que parece loucura.

Sei bem que você me lê como se entendesse

uma palavra sequer.

Mas nós dois sabemos que entre a gente tem

uma artilharia pesada que não se cansa de detonar

o que vier pela frente. Dos lados, idem.

Sabemos que deste diálogo mudo nada mais

se manterá em pé. Tudo ruiu junto com a gente.

Só nos resta parar de mentir e dizer um sonoro chega.

Nas escassas estribeiras deste prosaico adeus

vou catar o que sobrou da nossa história e picar minha mula.

Chega de rodopiar feito maria-mole,

chega deste teleférico medonho que virou nossa vez.

O meteoro está falido, há tempos.

Estamos flagrados num canto gélido e desafinado

das nossas próprias praças vazias.

Abre tua porta e me deixa entrar.

Depois acertamos o que ficou de fora.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 13/09/2015
Reeditado em 13/09/2015
Código do texto: T5380357
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