Temporais

Ah como eu amo os temporais
Nele exalo todos os meus ais
Ah como eu amo os temporais
Nele toda a terra se refaz.

Água caindo límpida
Lava a mais funda ferida

Água, banho de chuva,
santa criança
Banho de novas luzes e esperanças.

Água santa
Nela toda ferida se sana.

Qual é a força que move os temporais?
Suas luzes e seus vendavais?

Qual é o raio, o som mais raro,
Que faz-nos acordar
E indizivelmente nos arrepiar?

Quem compreenderá o seu significado
Na noite translúcida e abrirá
As janelas ao seu violento chegar?

O cheiro da terra é capaz de curar
E quanto mais negra
Mais o raio na noite poderá brilhar
Quem irá se assustar?

Quem mergulhará em seu som magnífico
Transformando a sua dor em ofício
A lágrima em sorriso,
O fim no princípio?

Quem, que andasse no meio de um temporal,
Na negridão da noite
Abriria os ouvidos, os olhos, os braços
Para ouvir, ver e acolher os seus raios?

E não temendo morrer; morresse
E não temendo nascer; nascesse.





                                                                        Petrópolis, 1995