A Passagem
Numa nuvem negra carregada de fuligem Tânato se aproxima
Encobrindo o brilho translúcido da aurora com sua hedionda execração
Esplendorosa as trevas dilui o dia, expondo sua repugnante anatomia
A litania fúnebre é recitada em coro, em sôfrega entonação,
Por seres peçonhentos herdeiros da funesta maldição
Vermes que sinistramente fluíram do ventre estéril da terra
Retorcendo seus corpos necrosados pela anoréxica dor da fome
Sôfregos se lançam sobre um corpo inanimado de mulher,
Com singelas vestes brancas, dentro de elegante caixão
Num átimo a nuvem negra de fuligem se desfaz no firmamento
Para abrir espaço a um delicado par de asas de arminho
Que ao som de liras angelicais, desaparece no magistral azul do céu.
(Edna Frigato)