Surgimentos...
A poesia que se faz dentro de mim
não sabe quase nada de amor.
Sabe muito de falta e de solidão, mas
para conviver bem, aprendeu a sorrir à-toa.
A poesia que se faz dentro de mim
decompõe-se na dor e na falta de alma.
Sabe ela que deveria aprender a fazer
malvadezas e peraltagens, mas não faz.
A poesia que se faz dentro de mim
não é pensada nem projetada, mas achada:
como quem sai por um caminho nunca antes
caminhado; e, de repente, da na poesia do dia.
A poesia que se faz dentro de mim
a ninguém faria falta se não nascesse.
Esta poesia que se faz dentro de mim
devia se aquietar e invernar para sempre!
É que estou sem tempo de fazer surgimentos!