ENIGMAS IRREDUTÍVEIS
A relação humana nunca cicatriza,
nunca dorme, nunca sofrega,
deixa sempre um teco a plainar
deixa sempre uma rebarba a traduzir.
As pessoas serão sempre eternas desconhecidas
nunca saberão de fato onde moram,
o que tramam, o que querem acolher,
o que querem na sua merenda do dia.
Gente é fruto bizarro, sem trava, nem cabresto,
nos olhamos achando que nos entendemos,
que nada.
Depois da morte ainda seremos enigmas irredutíveis
apesar de tentarmos nos fecundar
nos atracar, nos cerzir,
nos embalar na mesma vocação.
Você, eu, ela, ele, todos somos peças soltas de
um dominó sem dono,
todos somos partituras inacabadas esperando
algum sentido, alguma noção,
algum final feliz.
Podemos até tentar nos mesclar,
pode até parecer que deu liga,
pode até sinalizar que é por aí,
que nada,
Só o tempo dará a sentença,
e nos dirá que erramos no cheiro,
no recheio, na melodia,
no tempo que levamos ao fogo.
Podemos até berrar aos quatro ventos
o quanto somos fios da mesma meada,
o quanto somos filhos da mesma fagulha.
Podemos até ter a certeza de que
nos amamentamos na mesma teta um dia
que nada.
Você, eu, ela, ele, todos somos respingos
atônitos de algo que entendemos como vida.
Mas que de fato só compreende o vazio,
o tardio, o arredio.
E nada mais.
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