O mar veio depois do teu nome

O mar veio depois do teu nome

Pingo

escorrendo da tua

pra minha boca

A minha mão acariciando o teu corpo

por cima do teu vestido amarfanhado

como o farfalhar de folhas antigas

e tu me contavas devagarinho

os teus segredos mais verdes

deixando na boca um travo

Eu te beijava

como se beija o primeiro amor

inseguro

desajeitado

ansioso

querendo dizer paixão

sem saber

um sem saber de criança

sem saber que a tua boca

guardava anjos e prostitutas

Eu perfumava meu rosto

nos teus gemidos

nos teus cabelos molhados

do banho no tanque

onde tu banhavas as tuas alegrias

e as águas todas eram rios fugindo

Nós éramos dois bobos

que o mundo não alcançava

nem corrompia

só o silêncio sabia dizer

o que a minha palavra não dizia

Aí veio o vento

era domingo

no ar havia cantigas

e o poema fazia

e desfazia versos

e com o vento

o mar veio vindo

veio vindo

o mar veio

depois das tuas mãos

do teu colo

dos teus seios

dos teus olhos

dos teus lábios

depois das tuas pernas

depois do teu suor

Pingo após Pingo

deixando o sal adormecido no teu corpo

e, então, tu já vagueavas e vadiavas em mim

entre o amanhecer sussurrante dos meus braços

e os soluços da tarde encostada comovidamente

na ilusão extrema da noite dissolvendo-se em carmesim