AS CERCAS QUE BROTAM

AS CERCAS QUE BROTAM

Tranquei as dores todas

as cores possíveis

dentro de um quarto lá embaixo

pus-me a pensar que

as dores deixadas

guardadas

no quarto lá embaixo

não subiriam

pra dizer de novo

sobre as cosas

secretas

não voltariam de novo

no velho tempo

que escorre ainda

como orvalho de manhã

nascida

depois de uma chuva que

não mata nenhuma

sede

derrepente ouvi a voz

das mais antigas

dizerem

você sempre foi

minha amiga

porque agora

me quer aqui trancada

debaixo de seus pés

não posso ver o mundo

dizer sobre o fundo

das valsas

que danças

e dos acordes semitons

que ouve

o que houve

o morto é um fantasma

de sobre vida

quando nada morre

no sentido

que cria lá fora

há uma fome que quer

comer mastigar

torcer por raiz

crescer até os galhos altos

florir com pertença

como nascença

erguida sobre a vida

que carrega e morre

ressecada

há estas coisas eternas

que guardo no sótão

tão poderoso

torna-se agora

estante de facas de dois gumes

posso ler o sábio

convalescente

posso ficar imune

posso me ver imperador

dos sonhos futuros

posso imperar um verbo

salutar de volta

ao passado

por que a pele

me disse de novo

olhe de novo

isso não é por acaso

“o vaso vazio

deixou de ser tão frio

brilhando na mesa

com flores eternas

vazio

agora hiberna

e as flores tão belas

são as coisas secretas

que ainda vivem

sobrevivem lá embaixo

abertas”...