TARDE
Nos tempos da minha infância, a visão da luz que batia
às quatro da tarde
era sinônimo de festa:
Era a hora em que o Sol “esfriava” e as crianças saiam desembestadas pra rua brincar.
Nesse tempo,
Brincava a rua,
Brincavam o vento e os passarinhos,
Brincava a poeira que a correria dos pés levantava
E até mesmo o círculo, em suas proporções geométricas,
Brincava de roda
Na brincadeira dos meninos.
Hoje,
Às quatro da tarde,
Brinca apenas o relógio,
apático,
na parede do escritório.
Parou de brincar a rua -
tornou-se perigosa demais;
Parou de brincar o vento -
acondicionado em sua caixa de gelo.
A poeira, por sua vez, parou de dançar-
resolveu descansar seu cinza sobre os móveis.
Pararam de brincar as crianças,
e até mesmo os passarinhos pararam de cantar -
por conta da fumaça ou de um avô que não está mais.
Mas
a menina daquele tempo
ainda
existe:
Às quatro da tarde,
Se deita sobre o desenho
Que o Sol rabisca pelo chão
Com seu lápis de fresta de janela,
E escuta no vento,
atentamente,
as gargalhadas de um tempo
em que a Felicidade
Era a sua brincadeira e obrigação de cada dia.
08.09.15