Condor

Que dores carrega em suas asas o condor?

Que ares cortam e sustentam seu voar?

O sentir do povo em fuga ante o opressor?

A atmosfera infectada à pólvora e pus a putrefar?

Que cores leva e desfralda em suas penas?

Que línguas se propagam em seu crocitar?

As das flores que salpicam as cordilheiras e campinas?

As dos homens livres e seu indefeso cantar?

Que mistérios evoca com o seu planar?

Que mitos eleva e derrama sobre o salar?

Os dos deuses das montanhas e suas neves a desmanchar?

Os dos solos que, salgados, negam florar?

Que povos seu olhar de espreita tenta proteger?

Que Américas guardam suas asas em brasões?

Aqueles que com ele aqui jaziam no início e vislumbraram seu nascer?

Aquelas sem fronteiras a nos cindir ou as que sobre nós impõem canhões?