Orgasmo do Abade

La vem eles, la vem eles!

Gritou o sacristão lá de fora;

E o abade viu, por uma fresta,

No portal da capela,

Homens com lanças em riste!

O sacerdote, miúdo e medroso,

Não reparou no alvoroço,

Devotos, em hábitos,

Debaixo de golpes vigorosos.

"Ai, meu santo!", orava o Abade.

Os abatidos, em coro, também rezavam

Pela salvação dos outros,

Mas o choro dos vingadores

Era ritual mais forte que o dos dominadores!

Lá de dentro, um pensamento tilintou

De forma crua e verdadeira;

A cruz,

Já não era tão Vera,

Adeste fideles, laeti triumphantes;

E talvez nunca tenha sido,

Pois que morte sobreveio

Onde outrora a vida maravilhava,

Nua, em uma diversidade divina.

Urge fé para que felicidade

Seja mais que simples palavra potencial no tinteiro,

Asserta-te e deixe cantar sinos de generosidade,

E então amor e o que é divino,

Será um brilho estonteante nas nuvens do céu.

O Abade pôs-se em posição de sentido,

E veio ter com os índios,

Mas estes, já sanguinários,

Como quem teve roubado bem precioso,

Dardejaram o agora glorioso Abade.