Doação
revestir-se
no véu genuíno
da catarse
escorrer,
em vez de pingar
involuntariamente
mover-se até céu
assim permanecer devagarinho
como quem estima detalhes
e degusta cada orvalho
-doce descansado-
hidratando uma flor
travestir-se de flor
branca, pintada, colorida
na plenitude breve de um dia
e no outro deixar ser terra
alcançar estrada
inebriar-se de ar
até despetalar poeira
virar o anônimo mito da própria jornada
para eventualmente
despertar poente
nas mãos encantadas do artista
como quem desdobra a madrugada
e se põe a farejar
o nada
mas sem perder a glória
do achado
depois se encontrar
no encontro das réstias das sombras
e esquecer tudo
tornar-se caverna
gruta
chuva
orvalho
tato, teia, flor.