CAROLINA MARIA DE JESUS
em seu quarto de despejo
despejava Carolina Maria de Jesus
as palavras sujas
que recolhia nas ruas
imundas de São Paulo
pelas mãos que são suas
durante as batalhas duras
que travava enquanto
lixo-papel catava
fazendos bons despojos
para seu quarto
de despejos
"no vazio
cabe
um monte
de coisas"
(CMJ)
cabe
um monte
de coisas"
(CMJ)
em seu quarto de despejo
despejava Carolina Maria de Jesus
as palavras sujas
que recolhia nas ruas
imundas de São Paulo
pelas mãos que são suas
durante as batalhas duras
que travava enquanto
lixo-papel catava
fazendos bons despojos
para seu quarto
de despejos
onde
no registro diário
com sua mão preta
segurando lápis ou caneta
transubstanciava
o sujo em limpo
o grosso em fino
o feio em belo
o morto em vivo
o iníquo em digno
o lixo em palavras
enfiando letras em tudo
enchedo o vazio de uma vida sofrida
de coisas escritas com as finas tintas da dignidade
num diário que dia a dia foi crescendo
até um dia virar livro
na mais sublime
acepção da palavra
Carolina Maria de Jesus
sozinha fazia jus
aos mais belos aspectos
da alma feminina
que nunca deixa
de ser menina
enquanto todo dia
um pouco morria
um pouco também
escrevia
para dizer
que assim vivia
com sua mão preta
segurando lápis ou caneta
transubstanciava
o sujo em limpo
o grosso em fino
o feio em belo
o morto em vivo
o iníquo em digno
o lixo em palavras
enfiando letras em tudo
enchedo o vazio de uma vida sofrida
de coisas escritas com as finas tintas da dignidade
num diário que dia a dia foi crescendo
até um dia virar livro
na mais sublime
acepção da palavra
Carolina Maria de Jesus
sozinha fazia jus
aos mais belos aspectos
da alma feminina
que nunca deixa
de ser menina
enquanto todo dia
um pouco morria
um pouco também
escrevia
para dizer
que assim vivia