NEM SÓ DE PÃO...

enlutei-me ontem pelo pão,

que sucumbira silencioso ao ponto passado;

reduzindo farinha e levedura a mero carvão,

deixando um rastro amargo de orgulho queimado.

sepultei a obra não provada, pois natimorta,

sob ares pesados de tristeza e quase velório;

a labuta vilipendiada trazia-me lágrimas à porta

e custava-me desfazer da lembrança deste ato inglório

erguido estava um convento para a desgraça

mas tanto aquilo me afligia o coração

que, no piscar de um segundo, caí em oração

novo vento tomou pra si a fumaça

e eu já não pedia mais pão

pois, Deus, agora, comia da tua mão