Eu e ele no apartamento de fundo
São eles!
Sapatos gastos tilintando
no assoalho velho do prédio.
Foi eu quem os chamei
E lá vem eles
e a porta está aberta,
Homens das ruas,
entre os muros,
Mulheres do campus,
Homens de roupas boas...
Sou eu quem trouxe a festa
e os bêbados,
Mas não estou lá;
Sou como um fantasma da vida dele,
Um espírito sem dono vagueando
vasculhando os cantos
como um cachorro faminto,
e eles já entraram
Com copos plásticos
nas mãos lisas,
Que escorregam com amor
e o pavor dele não diz nada.
Alguém bate à porta; quem será?
O apartamento já é pequeno demais
para caber mais gentes.
São homens tentando pular das janelas,
Escorados na sacada,
Sonhando com o céu e os pássaros.
Entrementes uma mulher ajeita a saia
Um copo de vidro quebra e ecoa,
O que está comigo limpa os cacos
de sua música...
"Alguém ai coloca uma música!",
Não se ouve mais nada
além do silêncio das conversas
e a cada esbarro ele estremece.
Todas as bebidas se arrefecem
em sua casa,
Todos os camaradas tem lugar,
pois ele não é de lá.
E que caiam as paredes
de branco alvejado de vômitos,
Desçam as cortinas dessa peça.
Nas coxias continua a festa...
ele me entreolha,
sei que me espreita
E me pede conselhos
Mas eu,
que não sei de nada,
Inflo meu abdômen pra falar
"Que vão todos se danar Miguel!"
Ass.: G.T.