O corpo que criou o som que matou o sonho e sonhou com a poesia

Caminhando pelas canções da calçada,

Banhado pelas cachoeiras incrustadas,

O velho espírito se depara:

As bocas sutilmente gritam os versos

das poesias cabreiras

Ininteligíveis;

Não daquelas que dizem isto é aquilo

Ou assim é tal fato

Como profetas.

Falo das poesias como o ranger dos dentes de um leão,

Das unhas arranhando os corpos,

Da poesia advinda das mentes dos camaradas,

A cada momento viva

na nossa língua mulamba,

Poesias por vezes tristes,

Tristeza bela, tristeza senhora,

Mas também poesias cheias de calor,

O calor do som, que se mistura ao verso,

Cantando a origem da música,

O calor dos corpos como faíscas cintilantes,

Corpos afeitos ao amor

Mas também corpos livres

Que na corrente escolhem não ser livres,

Corpos animados por homens e mulheres nobres

A dançar no silêncio.

Corpos quentes de vida,

Tendentes aos quartos quentes,

ao quente sol ao qual se rendem...

O menino junto ao mar

vê aquele homem chegar,

Outrora afeito à terra firme, às casas firmes,

agora caminha pela areia...

A barba marca-lhe a face,

Os cabelos emaranhados esvoaçam...

O garoto com as mãos sujas de barro

vê que o homem não está mais lá...

Ele se olha, ao seu redor uma areia de tolos,

Mas se percebe que também é essa areia,

Um grão como um diamante

a refletir precioso

A Poesia da Vida.

G.T.