Um poema e um momento

A árvore lamenta

esboroa-se

cravada de dor

engolida e vergada pelas sombras

que vestem,

lentamente,

a noite carregada de segredos

e ainda impregnada do calor do dia

e do cheiro crasso e penetrante da lua que se anuncia

sondando a voz do tempo insustentável

que só existe quando eu penso nele

e lhe dou atributos de ser

engastado nas luzes e sombras

corroído pela ferrugem

levado pelos passos escapando

rumo às fogueiras correndo diante dos olhos meninos

e as águas do rio que a noite vai desmanchando

estrelas se aborrecendo

querendo ser cometa Halley

a eternidade morrendo pelo nosso punhal

lanhado de erros

e pelos olhos cegos,

pelos ciscos nos ventos que por aqui andam muitos,

que não diferem o essencial do acidental