UM HOMEM ANACRÔNICO

 
 
Para ele
roupa era fato
bem vestido
janota
se merecesse
recebia ​um ósculo
algum impedimento
um óbice
livro pequeno
um opúsculo
se jogava pela janela
defenestrava
se ficasse calmo
tinha fleuma
o final do dia
um ocaso
amanhecer
uma alvorada
o sol em cima da cabeça
um zênite....
se fosse pai
um exemplar genitor
se escrevesse
fazia-se um plumitivo
se usasse caneta
era pena
se nisso falhasse
claudicava
se pechinchasse
regateava
se distraísse
devaneava
se muito desejasse
anelava
se dormisse
cedia a hipnos
se sonhasse
,como D. Manoel,
caia nos braços de Morfeu
se morresse
daria
o
último

s
u
s
p
i
r
o



...o deslocamento da língua
na linha do tempo
invadia-lhe o corpo...

Calças com pregas
e vincadas com destreza
estavam agrilhoadas
à cintura
por um cinto
preto

i m p e c a v e l m e n t e
brilhante
camisa blasé
de manga longa
abotoada até próxima
o pescoço
também

i m p e c a v e l m e n t e
passada
penteou cabelo
e as suiças
cofiou o cavanhaque
nos punhos
abotoaduras
de ouro ou prata
dourado relógio de bolso
no nariz
pince-nez
para sair com
a namorada
,uma prenda,
chamada
Ignez

nada nele
admite o pecado
do desleixo


Mas ai de algúem
que o imprecasse
ou importunasse:
soltava os cachorros
mandava o imprecante
e maldito êmulo
para aquele lugar
onde nascem
exemplares
nascidos
em meio
à prole
da pior
das Messalinas