MELANCOLIA

MELANCOLIA

Aos poucos vão se abrindo as gavetas

E delas vão surgindo as recordações

Que pareciam de tempos perdidos

Quase até parece, não vividos

Mas que afloram e mexem com emoções

Há tanto guardadas, emboloradas

Mas vivas como o que

Um papel com uma letra desenhada

Da mãe viva e deslumbrada

Uma foto amarelada

Mas um amarelo ouro

Um menino sorridente

Com falha nos dentes

Com aquele homem magro

De pernas tortas

Com um x na frente do bigode

Parecendo muito feliz

Com seu aprendiz

Um desenho pintado

Ou melhor, rabiscado

Com cores espalhadas

Como se o mundo fosse colorido

E jamais sofrido

Um binóculo com foto

Daqueles que não mais existem

E a foto está lá

Naquela praia inesquecível

Como se única fosse

E naquele momento

O era mesmo

E surge desse emaranhado

Uma calculadora

Que incrivelmente ainda calcula

Mas que não sabe fazer a conta

De quanta saudade

No peito se acumula

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 02/09/2015
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