Dos sonhos eu quero os mais maduros

Te vejo

quieto como o sol suspenso lá fora

como o tigre que começa em tua boca

como a ave que ainda não te conhece

e se demora

a olhar tua beleza

como a face vermelha ao perguntar o teu nome

como o barco costeando rumo ao farol dos teus seios

Como não olhar

quando te vejo?

se as palavras com as quais eu te leio

com as quais te falaria

se extraviam

absortas

insondáveis

quando vens caminhando sonhos

Imagino teus olhos

não os vejo

negros olhos?

noites calmas?

onde começam?

onde terminam?

sonhos negros?

imagino teus olhos,

dona do tempo,

e espero

você inteira passar

Quem é você

morena, ternura e sonho

surgindo

de dentro do silêncio do salão?

quando vens caminhando segredos

caminhando como quem dança

o passo lento do vento

as chuvas bebendo o verão

fazendo de ti

flor de laranjeira

pólen

favos de mel

pela tua morenice açucarados

nos teus lábios onde o beijo pousa

e as abelhas sorvem os dias

para te entregar

Há um mar de ilusão entre mim e ti

mordo o tempo

o dia passa tão lento

esperando o outro dia

para eu te ver outra vez

Dos sonhos quero os sonhos mais maduros

suculentos

quero os sonhos mais maduros

quando te vir outra vez

quero o silêncio que ouço quando chegas

trazendo ritmo e graça

e as respostas

dos sonhos que despertam

em tantas carícias supostas

quero o sonho suculento

escorrendo sumo in natura

quero a candura

inebriante dos versos silentes das tuas costas

A ilha fala de nós

ancorada à inocência do mar

a ilha diz que eu não devia

te olhar como eu te olho

mas meus olhos olham,

logo que chegas,

para a ausência que deixarás

e, então, meus olhos já são só saudades

por que contigo me esquecerei

dentro deste poema

que nasceu deste silêncio que nos toca

poema que jamais te enviarei