Cegueira
Por que insistimos tanto em não enxergar...
A chuva, de forte intensidade sobre as telhas de metal a barulhar?
O sol, que nos ofusca a visão quando estamos ao volante a nos transportar?
O vento, que desalinha nossas roupas e incessantemente os cabelos embaraçar?
Por que insistimos tanto em não enxergar...
As nuvens, que rasgam o firmamento em noites de luar?
As folhas, que das árvores caem e ciclo novo voltam a reiniciar?
As pequenas aves, que buscam o doce açúcar de bebedouros artificiais para se alimentar?
Por que insistimos tanto em não enxergar...
As lágrimas, que dos olhos de um próximo correm sem cessar?
O sorriso, ingênuo de uma criança ante a novidade a se vislumbrar?
A emoção, de um avô o crescimento de um neto a admirar?
Dentro de nossas veias, o sangue insiste em circular...
As contrações do coração, que a vida não pára de bombear...
A mente, que um só instante não pára de processar...
Mas como máquinas, não devemos nos transfigurar.
Mas como pedras, não podemos nos solidificar.
Como deserto, não nos permitiremos secar.
Retiremos nossas vendas dos olhos antes que seja tarde demais.
Antes que a catarata da ignorância comprometa, de vez, nossa visão.
Antes que a cegueira do coração nos torne inválidos de amor!