CORAÇÃO DESCOMPASSADO
CORAÇÃO DESCOMPASSADO
BETO MACHADO
A mansidão das minhas mãos
Que insiste em ceifar minha ansiedade,
Tocando as dela, em furtivas carícias,
Quer empurrar meu coração empedernido
No abismo de uma nova paixão...
E esse músculo bandido até faz gosto,
Gingando e batucando num ritmo oposto
Ao da canção da ética.
Oh, coração descompassado, tenha dó
Desse corpo escravizado, cativo da razão,
Trazendo nos ombros fardos e mais fardos
De emoções passadas e paixões perdidas!
Fuja, coração!
Tu não resistirás aos sustos desse precipício.
Não te deixes engambelar pelos gestos doces
Que minhas mãos te lançam por meio d’outras,
As dela... As mãos dela quando premem meu peito,
Como se fosse pra te arrancar de mim
E enrubescer meu frontispício.
Vai, coração, descansa. Sossega.
E um pedido justo não se nega.
Se quiseres bailar tenho valsa e samba canção.
Se quiseres cantar te dou bolero, mas não te definhes.
Preciso de ti pleno. Não te metas em batuques.
Deixa isso pros meus pés, que eles dão conta.