Porre infernal da fé

Minha fé nunca aprendeu o be-a-bá,

é fagulha sem chama, nó sem folga

não sabe o que quer da vida.

Mesmo assim tem sangue fuçando suas veias,

mesmo assim deve estar na minha partitura de vida,

em algum lugar que ainda não sei.

Minha fé é trêmula, afoita por respirar,

vive buscando o fio da sua meada,

ou alguma pista das suas asas.

Minha fé é surrada, meio canastrona, mambembe,

não diz coisa com coisa,

parece que encheu a cara num porre infernal.

Minha fé se esconde num matagal de dúvidas,

tem falhas de memória, desvios de comportamento,

não é pródiga na gratidão, nem no perdão.

Pouco sei das suas amarras,

pouco entendo dos seus atalhos,

pouco compartilho dos seus recheios.

Mesmo assim não jogo fora,

nem maldigo quando o barco afunda

ou falta pão na mesa.

Mesmo assim não destroço com o pé

nem cuspo em cima rindo à toa.

Mesmo assim espero um dia

que me abraçará sem pressa

pra dizer estou aqui.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 31/08/2015
Código do texto: T5365210
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