Precisamos enterrar alguns dos nossos vivos.
Justamente aqueles vivos que relutam em se mandar para o além,
que teimam em ser nossas sombras, nossos nós,
nossos tumores infinitos.
Precisamos ter coragem para enterrar alguns dos nossos vivos.
Bem aqueles vivos que dilaceram nossos sonhos,
que fazem careta para nossas emoções,
que fazem nossa paz debruçar na beira da janela ameaçando cair.
Precisamos ter honestidade para enterrar alguns dos nossos vivos.
Certamente aqueles vivos que se fazem de mortos
fingindo que não estão nem aí, que não têm a menor valia,
que são bobos e incapazes de matar uma mosca.
Precisamos ter capacidade para enterrar alguns dos nossos vivos.
Bem aqueles vivos cujo sangue não corre mais nas veias,
aqueles vivos cuja alma foi embora de vez,
aqueles vivos que a carne está apodrecendo sem cansar,
aqueles vivos de quem já tiramos atestado de óbito,
que já maquiamos para expor num caixão,
que já ficamos velando até a hora do enterro,
que já acompanhamos até a cova,
que já vimos descer o caixão,
que já vimos jogar terra e mais terra e mais terra e mais terra em cima
e que viraram zumbis
pra amaldiçoar nossa história para sempre.
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