Poemas do Beco ( VII ) O Colégio

Chegaram homens

com máquinas e tijolos

e, da noite para o dia,

plantaram um templo no Beco.

Era um colégio enorme

com ginásio de esportes

e pracinha de brinquedos,

bem na esquina do Beco

com a Rua do Riacho.

No pátio fizeram um prédio menor

com uma dúzia de tanques,

com uma dúzia de bicas

e água, muita água cristalina

para as mulheres lavarem trouxas de roupas

de seus fregueses grã-finos.

Foi nesse tempo

o meu batismo com as letras.

Um anjo translúcido e macérrimo,

esguio como uma palmeira

e encantado qual uma fada

ensinou-me a magia

de fabricar as palavras.

E assim, de letra em letra,

construí meu próprio trem

para descobrir o mundo

que morava além do Beco.

Professora Terezinha:

fada madrinha

estrela guria

que me tornou independente

de outros olhos, de outras mãos

para que eu descobrisse:

povos e montanhas

astros e vulcões

paralelos e oceanos

aldeias e continentes

países e galáxias

e o mundo inteiro

no universo do Beco.

Nas datas comemorativas

havia festa no ginásio de esportes.

Uns cantavam

outros tocavam instrumentos musicais

ou dançavam.

Eu, que não fazia nenhuma nem outra coisa,

restava-me apenas declamar.

Se eu era bom em alguma coisa

Era em inventar histórias.

E, de história em história,

o tempo foi passando despercebido

até que um trem de verdade

trouxe-me do Beco para a vida.