DAS VALIAS
Anfíbios
Triste constatação:
Ver a onça desistindo
Do jacaré em plena lagoa,
Saber-se faminta à espera
Da próxima oportunidade...
Assim é que nos vemos,
Famintos de todas as fomes,
Enfrentadas verdades...
Felinos esperançosos
Ou anfíbios amedrontados?
Mas a lagoa é imensa
De oportunidades...
Triagem
Talvez eu saiba
Para aonde correm os rios,
Os medos dos gatos vadios...
A pressa dos corredores.
Talvez eu venha a saber
Os seus valores
Aqui e ali encontrados
Entre gatos e farrapos
Dessa estranha linha
De tempo e hereditariedade,
Sujeitos às novas ideias,
Ou recapagens delas...
Talvez eu pense saber
O que não saiba...
Talvez eu possa prever
O que se salva
Dessa estranha triagem
Que eu não saiba.
No amarelo assustado
De Clarisse Lispector
No amarelo
Assustado das tardes
O macio da certeza
Do vento contrastando
Com a aspereza do pó
Acordado cedo
Da beligerância
Formando
Um grupo perfeito
A assobiar a alegria
Dos momentos
Sobre as pegadas
Do sentimento nos
Vidros de pintura lisa,
Formando o que
Se poderia dizer:
Vida!
Das valias
O chão que nos valia
Desmorona
Ao toque áspero da ducha
À procura do ouro esparso
Nas linhas turvas...
O solo desfazendo-se em torrões
Que serão levados para as quilhas
Transformados em areia e pedra
A argila de antes compactada...
O chão que nos valia
Já não nos vale a intenção escassa
De fortunas amealhadas...
Ouro, argila, mãos crispadas
Nesse vai e vem da enxada
Escavando vidas na enxurrada,
Quase nada nesse nada
Em que se torna a procura
De amanhãs...
O chão que nos valia
Já não vale a mão decepada
Pelas tardes vãs.
Sergiodonadio.blogspot.com