Campos de miosótis

Eu sumi

Você sumiu

Ficaram dias maduros

As noites também ficaram

Ainda surgindo do horizonte

Quando a tarde treme

No mais completo silêncio

E as estrelas transbordam

E passam,

Pequenas agulhas azuis

Perfurando a escuridão

Escrevi cartas em pétalas de flores

Uns versos

Com a mesma sede de barro

Que eu tinha na infância

Versos que se perderam

Talvez

Nos caminhos cansados de espera

No tempo adormecido

Dos teus olhos feitos de água

O tempo acendeu rosas brancas

Já não diz nada

Rosas brancas...

Quem quer rosas brancas?

Cultivadas na poeira entornada pelos dias

Acho que tu não quererias, por certo

As palavras podem atrapalhar,

dileta amiga

Por muito andar distraídos nos perdemos

O tempo acendeu saudades

As luzes da tarde caem como palhas e o vento,

Entrando pela janela desolada,

Rouba os barcos ao mar,

Mordendo a paisagem

Como hei de te reencontrar se barcos já não há?

O mar ficou inabitável

O tempo põe-se a dormir

Nas varandas caiadas de distância e solidão

Nos versos que faço ficam os

Rumores do cheiro inocente do voo do pássaro

O inverno escuta as chuvas

Entre o mar e o mar

Entre a manhã e a pedra

E a vastidão do silêncio

dos bosques a te procurar

Sinto sua falta,

Amiga minha

A música cessou

Imperfeita

Inaudível

Apartada de ti

Não

Eu sumi

Você sumiu

Há uma lua no céu entre os portões

Dos campos de miosótis

É noite nas águas e no olhar das lágrimas

Do silêncio a te procurar no exílio da tela branca

do computador

Eu sumi

Você sumiu

Fechamos os olhos dos sonhos

O primeiro sonho já dormiu

Mal o poema se abriu