COMISERÁVEL FOME
COMISERÁVEL FOME
Fome cruel dos mendigos
fome desejo que come
olhos de litros possíveis
destinos em vidros
retina hipnótica
saboreia de longe
amáveis mãos
deslizam sobre o corpo
numa dança estranha
manha de ficar beijando
nucas e pulsos
insultos voláteis
sobem pra lhe dizer
que o luto da noite
corre nas paredes
deixando marcas
siga sua verdade
até onde quer ir
ela está sentada
toda sombra será vivida
possuída de fome
será servida
fome pede sacio rápido
fome andarilha nos corpos
fome nos escombros
nas ruas secas
encharcadas de gente
no antro perfume fugaz
repentino aparece
depois enfraquece
deve buscar o limite
pelo que existe
de fome
em todo lugar
constante fome réptilia
o embuste que dizia
ser passageiro
voa pelo vestido inteiro
uma vértice sanguínea nas veias
deseja minha boca
por inteira
o imortal da fome
morre deserto
pálido sem espírito
quando desperto
pelo mortal codinome
carrega desejos nos olhos
quer seguir meu caminho?