CADÊ O MEU EU? (2008)
Estou com dor em meus ossos
Minha epiderme lateja com feridas expostas
a serem cicatrizadas
sei lá por quem e por onde
Tenho frenesi a congestionar
minha visão que tenta ver além dos
rostos mortos à espera de um retorno das cinzas
Cinzas que são usadas como travesseiros
O sono da autenticidade foi sequestrado
neste zimbro pela insônia da mascara
Cadê a minha personalidade?
Foi roubada pela mídia!
Cadê os meus cabelos enrolados?
Foi alisado pela beleza ditada!
Onde foram morar os meus gostos?
As minhas decisões?
O meu não e o meu sim?
Tiraram meu nome
em seu lugar tenho um numero de RG
a ser decorado feito tabuada no ginásio
Não sou mulher
Não sou humana
Sou o que?
Uma "coisa" qualquer
Vestida pela moda
Costurada pela acadêmia
Dirigida por um carro importado
Sendo falada por palavras decorativas
de todos que me cercam
O corpo grita
A alma geme
O espirito se escandaliza
Quando se depara com esta "coisa"
Cadê o meu EU?
O ser autêntico
Preciso tomar banho
Lavar minhas vísceras
Tornar-me limpa
Para vestir-me
Novamente do meu EU
aquele que saiu do ventre da
minha guardiã
Quero decidir por mim
Não quando os outros querem
Quero chorar e aceitar a morte
minha e de todos que rodeia-me
Quero cair e poder levantar
no meu momento
e não no momento dos outros
Não quero rir
porque todos estão rindo sabe lá do que
Muito menos estar com um homem
só para dizer que tenho um em casa
que faz-me sentir só
Quero ser eu
em decomposição
em criação de mim mesma
Quero ser o meu próprio fogo e água
Minha terra e chuva
Meu abrigo e desabrigo
Quero eu achar o meu raio e trovão
Quero as minhas vestes
que escolhi a vestir
e não as que estão me obrigando
a vestir neste corpo que não passa de pó
Quero ser fraca de demasia
Não precisando esconder de ninguém
quem realmente sou
Quero usar minha honestidade de mãos
dadas com a desonestidade
que eu faça minhas escolhas
Quero falar quando me convêm
Calar quando me desdém
Quero andar e parar
sem o tique-taque do relógio
correndo a trás de mim
como minha sombra
Cadê o meu EU?
Foi roubada por esta sociedade fútil
Por esta modernidade pobre de espírito
Quero o meu EU
sem mascara a ser usada
por esta face autentica
mas que anda só
por não ser vendável