Umidade
Respingam do orvalho
do túnel secreto entre a noite e o dia
gotas suficientes à umidade das
palavras.
As palavras andavam secas
ressequidas na pele
encobertas da aspereza bruta
da terra que as enterrava vivas:
feto em vir a ser.
As palavras lutavam por respirar
clamavam para ver o sol
sonhavam com a brisa do mar
até arranharem o caixão
em despero
e morrerem asfixiadas,
entregues aos vermes e à eternidade
antes mesmo de terem sido.
Na madrugada,
as palavras estão úmidas...
Precisas na imprecisão.
As palavras renasceram nas tardes
cinzas sopradas pelo vento
e continuam vivas
no silêncio
acordado pela poesia.