VOZES DE GELATINA
Lembranças são amas insanas
que nunca viram perdão
nem soltam seu ferrolho.
Lembranças tonteiam, fazem a alma debutar,
agonizam cada vão do medo sem dó.
São vozes de gelatina,
são suores que vêm e vão sem pressa,
pra deixar o corpo menos órfão
e a dor menos aflita.
Nossas lembranças se dizem inócuas,
ou loucas por certo,
se fazem mansas, se mostram caladas,
sem ter nada a ver om tudo isso.
Suas garras nada amenas dizem tô aqui,
como leques que fazem o vento rodar a baiana,
como pimenta nos olhos de um bebê,
como tiro bem no meio da fuça dos céus.
Lembranças destronam, desafinam, desmamam,
fazem o sangue ressuscitar,
deixam o gostoso com cara de quero mais.
Lembrar nos devolve o hálito lindo da paixão
faz cada passo ser luz de novo
faz os gritos rasgarem suas mordaças
faz as emoções perderem seus lacres
faz nossos tumores se mandarem de vez.
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