A NOITE
A noite é clara evidência
De coisas cansadas,
De pessoas cansadas,
De casas adormecidas
E de ânsias arrefecidas
Na solidez das horas diurnas
Que devastam campos
E imprimem às lavouras ilusórias
O tempo certo de revolver esperanças
Plantadas no desmantelo do tempo.
É da noite o recompor-se,
O relaxar a vigília do corpo
E ascender as luzes da alma.
É quando as trevas revelam
A fragilidade e o medo humanos.
Sabe-se lá, Deus, o que se espera
Quando do romper da aurora
Que desperta os Sísifos viventes
Para (re)galgarem o arco do dia
Suspenso em cordas laceradas
Por parcas possibilidades.