Essas Tantas Que Me Habitam

Como te dizer dessas tantas que me habitam?

Essa que te escreve esta estrofe é terna

Possui uma serenidade quase incômoda.

Afoga-se em meiguices e sutilezas.

Sabe-se assim, afeita ao sublime

E ao divino das pequenas coisas.

Não nega ou desvia olhares, expõe-se

E cede à lenta embriaguez do sentir.

Cabelos longos, refletindo esperas sob os ombros,

Como a aguardar mãos que lhes desalinhem em carícias.

Na face, todas as estações.

No corpo, alquimia de vontades.

Como te dizer dessas tantas que me habitam?

Essa que te sussurra neste momento,

Descalça-se de pudores, enche-se de intenções

Mãos nuas e sempre em oferenda,

Porque é o amor, seu próprio altar

É que há vestígios de madrugadas úmidas,

Comunhão de êxtases a acordarem lembranças.

É que nas noites dessa, ainda há o teu corpo

Murmurando uma ausência não assimilada

O desejo sempre consumido pela saudade

Consumando-se no leito da espera

Como te dizer dessas tantas que me habitam?

Essa que fala por mim agora, não sabe das outras.

Desconhece o alvoroço de uma, a doçura da outra.

Guarda palavras interditas, emoções contidas

Como se no silêncio buscasse a claridade

Que se derrama da epiderme da vida.

Vestida de solidão, alcançar-se é seu destino

Olhos imersos a tecerem caminhos.

É sempre nau, oceano dentro de si

É no além do reflexo, espelho da vazante

Que seus olhares mergulham e navegam.

Como te dizer dessas tantas que me habitam?

Essa que é o pulsar da veia daquelas

Que descobre na falta de quase tudo,

Que é fonte para a própria sede

Não que se baste ou que se desabite

Desfolha-se em pétalas de vivências

E cada morte é em si, um renascer

Porque percebe-se adiante do respirar

É também por pisar em folhas secas

Que os passos descobrem a primavera.

Fernanda Guimarães

Visite "De Amores e Saudades - Fernanda Guimaães;

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 28/02/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T5351