Essas Tantas Que Me Habitam
Como te dizer dessas tantas que me habitam?
Essa que te escreve esta estrofe é terna
Possui uma serenidade quase incômoda.
Afoga-se em meiguices e sutilezas.
Sabe-se assim, afeita ao sublime
E ao divino das pequenas coisas.
Não nega ou desvia olhares, expõe-se
E cede à lenta embriaguez do sentir.
Cabelos longos, refletindo esperas sob os ombros,
Como a aguardar mãos que lhes desalinhem em carícias.
Na face, todas as estações.
No corpo, alquimia de vontades.
Como te dizer dessas tantas que me habitam?
Essa que te sussurra neste momento,
Descalça-se de pudores, enche-se de intenções
Mãos nuas e sempre em oferenda,
Porque é o amor, seu próprio altar
É que há vestígios de madrugadas úmidas,
Comunhão de êxtases a acordarem lembranças.
É que nas noites dessa, ainda há o teu corpo
Murmurando uma ausência não assimilada
O desejo sempre consumido pela saudade
Consumando-se no leito da espera
Como te dizer dessas tantas que me habitam?
Essa que fala por mim agora, não sabe das outras.
Desconhece o alvoroço de uma, a doçura da outra.
Guarda palavras interditas, emoções contidas
Como se no silêncio buscasse a claridade
Que se derrama da epiderme da vida.
Vestida de solidão, alcançar-se é seu destino
Olhos imersos a tecerem caminhos.
É sempre nau, oceano dentro de si
É no além do reflexo, espelho da vazante
Que seus olhares mergulham e navegam.
Como te dizer dessas tantas que me habitam?
Essa que é o pulsar da veia daquelas
Que descobre na falta de quase tudo,
Que é fonte para a própria sede
Não que se baste ou que se desabite
Desfolha-se em pétalas de vivências
E cada morte é em si, um renascer
Porque percebe-se adiante do respirar
É também por pisar em folhas secas
Que os passos descobrem a primavera.
Fernanda Guimarães
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