ANOITECEU
Anoiteceu — aqui, neste quarto-sepulcro
Onde as horas se tornaram incontáveis
Das sombras, espreitam seres detestáveis
Que vêm perturbar-me aos vultos
E eu, que não passo de um ímpio sobre o firmamento
Amargo o limbo das noites murmurantes
De olhos fechados e respiração ofegante
Amaldiçoo a noite e cada espírito agourento
Um furor sombrio ora me invade o peito
Sinto lâminas que me dilacera a alma
Já não tenho medo, já não tenho calma
Pago em vida por tudo que tenho feito
Condenado à triste e torturante insônia
Sem poder ao menos aca(l)mar o corpo
Sou homem vivo, ao mesmo tempo morto
De lágrimas fáceis: lágrima-acrimônia.