O Poeta Quer Falar - IV
O poeta quer falar;
Ele ouve o Fim do Silêncio, o perturbo de todos inimigos,
Choram no silêncio de suas almas,
Nas escuridões de sonhos devastados.
O poeta quer falar;
Que o caos que criaram, enfim tornou-se verdade,
O vento contrário sopra, com força,
É a virada dos tempos...
O poeta quer falar;
Em tempos de guerra, ele não se rende,
Não se esconde, corre atrás do juízo,
E de todo prejuízo,
Sem cordas, amarras, trilhos.
O poeta quer falar;
Dos caminhos escuros, becos malfeitos,
Ladeiras obliquas, estradas de asfaltos mau asfaltadas,
estradas de terras planas e esburacadas.
O poeta quer falar;
Sobre as nuvens que passaram sem molhar o chão,
Mostrando as condições, o clima,
O favorável que todos esperam...
O poeta quer falar;
Que em tempos cinzas,
Sua cidade preferida é São Paulo,
Em dias de sol Imbituba,
Em dias de amor Maceió,
Em noites de guerra Capelinha.
O poeta quer falar;
Que começou o insulto, e não vai parar,
Que só depois de pisar em todos que lhe pisaram é que vai buscar sossegar,
Pois o poeta sofreu tanto com seu amor,
Que só agora acordou pra poder também magoar.
O poeta quer falar;
Que já suporta tantas dores impossíveis,
Que as possíveis tornaram-se impossíveis.
O poeta quer falar;
Que não é mais hora, minuto. segundo,
Mas o tempo todo revoltou-se.
O poeta quer falar;
Que não sabe se foi por ocasião, por paixão,
Por opção, por força bruta, intelecto, ou fora de sua razão,
Que abalou os muros inabaláveis, descontrolou os triunfos das chaves,
Quebrou as trancas desses malditos covardes,
Com a destreza de seus ataques,
Mas tem a certeza que no meio desse combate não vai deixar que eles novamente embalem.
O poeta quer falar;
Que conhece tão bem seus inimigos,
Que sabe que foram os mesmos,
E os mesmos retornaram.
O poeta quer falar;
Que antes era diferente, pois sabia os estilos e padrão,
Mas não sabia a cara de como eles eram, mas os vendo,
Concebe agora a vocês o quanto ambiciosos, cobiçadores realmente são.
O poeta quer falar;
Que entende, vê, conhece todo o sistema,
E não irá temer, tremer, ceder,
Vai brigar constantemente,
Até o início, e depois do fim.
O poeta quer falar;
Que deu o start, e não quer staff,
Agora é sem studio,
E que seu sangue arde,
Seu ódio é amor puro,
Indignação furiosa,
Sem luvas quebrando a cara do onipotente,
Dos incoerentes, covardes disfarçados,
Que fizeram sofrer, que pensavam faze-lo sofrer novamente,
Sem ao menos conhecer,
Sem lembrar das derrotas que tiveram contra a força do poeta desconhecido,
E das derrotas agora enfim o conhecendo,
O dias foram sofridos, as noites inigualáveis,
Mas o poeta revoltou-se, sofreu cada dia como se fosse uma breve passagem,
Poeta de força tática, poeta de choque, poeta que faz as rotas,
Poeta que usa os instintos de gíria federal,
"Exagerado, incomum, fora do normal",
Pois só assim seus inimigos conseguem senti-lo de perto,
Pois só assim seus inimigos saem das tocaias,
Pois só assim seus inimigos mostram a bunda e a cara,
Poeta este, bravo, retilíneo, sem descrição,
De braços abertos ao combate e corpo fechado aos jogos,
Heróis dos fracos que temiam, e guerreiro dos bravos que o acompanham,
Exibindo de "corpo e alma" aos covardes, corruptos, fracos sobreviventes de bandos perdidos,
O seu tipo, a sua educação, a sua classe, os seus testes, os seus professores,
Porém em tempos que Deus remonta todo quadro do destino,
Seus inimigos vão conhecer a força dos amigos que esse poeta trás,
Já que evaporam nos escuros, não suportam o pavor de ter o poeta em suas provinhas cabais.
O poeta quer falar;
Que vai doer, que já doeu, mas não doe mais,
O poeta só espera,
Que eles superem,
A dor que o poeta suportou,
Calado, sem saber, sofrendo no silêncio,
Torturado nas noites escuras, acordando ao claro,
Mas agora entende,
Que Deus faz a gente sofrer,
Pra só depois descontar.
O poeta quer falar;
Que deseja espancar, mas não vai bater,
Que deseja ensinar, mas vai aprender,
O poeta vai falar,
E que eles queiram ou não,
No melhor estilo alagoano;
"Vocês vão ter que me engolir",
Seja hoje, amanhã, ou já.
O poeta quer falar,
Gritar a todos,
Que a revolução começou,
E não podemos parar.
O poeta quer falar;
Que não é guerra de burguês,
Não é guerra de pobre,
Não é guerra de sistemas,
É guerra pessoal,
E que chegou a hora de confrontar.
O poeta quer falar;
Fazer compreender, entender, questionar...
Pois o poeta sabe,
Que ser poeta é não ter nada pra falar.
Mesmo assim
O poeta quer falar.
Humberto Fonseca