HABITO...
Habito um corpo terreno
Voraz, às vezes, sereno
Eu sinto dentro e fora
O vento das minhas horas...
Eu sou um pouco de tudo
Um nada sinto, contudo...
Sou água em nesgas de terra
Sou paz metade na guerra
Sou frio, quente, latente
Sou gênio meio demente
Espera sou, sou demora
No entardecer sou aurora...
De ser humilde me orgulho
Silente sou, sou barulho
Amigo sou do inimigo
Um inimigo eu abrigo...
Sovino sou, caridade
Sou ilusão, realidade...
Não me procure mais tarde
Algema sou, liberdade
Bati as asas ao vento
Liberto ao firmamento
Ainda preso à mente
E o corpo intransigente...
Eu estarei tão distante
Que nem um beijo de amante
Nem mesmo a força de um sismo
Tão pouco o som de um bruxismo
Terá poder de fazer
Que a noite traga o meu ser...
Assim a noite só minha
Silenciosa me aninha
Imerso à ela com calma
Eu estarei sem a alma...
Não me procure sem hora
Agora não, por favor
O sono é como uma flor
Que desabrocha na aurora
A espera de um beijo de amor...
Autor: André Luiz Pinheiro
10/08/2015