Cárceres 

Vivi na redoma azul do céu, na atmosfera,
Condicionado ao ar rarefeito, meu defeito.
 
Vivi lento os segundos, a tortura da espera,
O teor da bula da doença, a tosse no peito.
 
Vivi nos tecidos da carne da língua mordida,
Amortizado, anestesiado em gosma e saliva.
 
Vivi no acalanto da prece fria, interrompida,
Demonizado, acariciado pela canção nociva.
 
Vivi dentro do vidro verde e numa ampola,
Encarcerado na transparência e nos limites.
 
Vivi tempo e meio preso no vazio da argola,
No quarto final a morte mandou os convites.

 
 
Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 17/08/2015
Reeditado em 17/10/2015
Código do texto: T5349801
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