Poema e prosa na mão alheia

Ouço o ritmo do meu poema,

que pena, a rima foi-se embora...

Acorda mané que este poema não te quer e nada sabes dele.

Quis que ele tivesse boca.

Perdão, meus poemas já nascem independentes,

com a boca cheia de dentes, o formato completo.

De resto, o que a crítica dele adivinhar eu retiro sua tinta,

ponho outro verniz e nada mais dele, do que fiz, se inventa

e mulher nenhuma achará homem, nem a sede a fome, nem o sorriso o choro.

Perdoe-me dona prosa, que descasco e dela retiro as palavras

mas não lhe dou estrofes, fracas ou forte,

por isso, dela, meus poemas tanto se distanciam:

se a prosa é melão, eles são melancias!

Quem pensar que o poema não é uma arte mais requintada,

certamente é prosador

e mentiroso, porque o gostoso do ritmo é a rima,

do lirismo a prosa alheia e desconstruída

e por fim, o que cada um nele entender, de diferente,

tanto que, se ele falou de amizade,

há que dirá que falou apenas de dor de dente.