SOU
Sou um vagabundo,
Perdido, solto no mundo.
A fim de amar,
Mas com medo.
Sozinho, só, solitário,
Desnudo, desanuviado.
Triste, lamentoso, jogado
Às traças, ou qualquer
Bicho cismado.
Convivo como um cão bobo,
Enganado,
Por qualquer ser humano.
Qualquer Cowboy,
Qualquer fulano.
Atrás de um alento bolorento,
Ser argamassa, sem cimento.
Sem nada de bom que seja grudento,
Ou algo de vivo ciumento.
Sou do sabor da amarula,
Sou natural de uma vulva,
Sou doce e seco como uva,
De um vinho doce de pecado.
Há de brotar de meus pesares
Centenas de milhares de aves,
Incautas, desastradas e loucas.
Hei de esquecer de vestir minhas roupas,
De parar pra lavar as louças,
De dormir para sonhar.