RAINHA dos AUTOMÓVEIS

É chegado o momento de tudo acabar.

Sem gestos ou palavras. Acabar.

Como o Adeus dos arquivos e dos mandatos.

Acabados beijos abraços,

morto o sexo na garganta profunda do crepúsculo

- lúcida potra idolatrada nas flechas de fogo

dos anjos fanáticos do prazer adolescente.

Vá. Os carros esperam na esquina.

Vá. Desejos brutais sangram dentes.

A pele flutuando sem corpo. Rainha dos automóveis.

Rainha dos automóveis e da geléia máscula

escorrendo nos dedos da noite solitária.

O defunto envia mensagens

pelas bolhas na piscina.

O caso chegou ao fim.

O vazio reina.

As respostas nos pátios desertos atestam:

o santo e a loucura foram embora.

Ir. Comigo as ruas ficam maiores.

Ir. Jornada de erros.

Me espere.

Em vão. Caminho só,

nu de emblemas

e adjetivos.

Não sou o semeador dos teus mistérios.

Greves. Quilombos oníricos.

Tranqüilidade má.

O que você queria? Sinto prazer na solidão,

a sereia motorizada alastra-se do sexo estradeiro nas entranhas,

entope as praias de paixões decepadas.

Escolhi viver como desertor.

Livre de sentimento ou memória.

Livre do sangue.Livre das pessoas.

Livre das coisas. Sem objetivo ou desejo.

Vejo movimento nas sombras.

Você entende? Diga que sim.

Não me esqueça apenas.

Estou longe. Corrigindo o Tempo.

Não me perderei no mar. Nem me matarei.

Vou seguir o eco do crepúsculo

onde o amor é uma estrela rodeada

de anjos psicodélicos