A Descoberta

Certo dia, não era tarde/

O sol já se encolhia atrás do horizonte/

Clamando a fonte, pelos versos da noite que se aproximava/

E para admirar o nascimento dessa essência/

Pela vontade, assentei-me nas horas lentas/

A refletir como há muito tempo fazia no meu quintal/

Entre o sabiá e a cigarra/

Adormeci e quando despertei, sob um mormaço/

Dei-me conta do cansaço/

O mundo estava em minhas costas/

Foi aí, que outra vez, mesmo em pedaços/

Arrastando-me nos enlaços segurei um livro para ler/

De súbito, percebi que já não enxergava as letras/

Sem poder me conter; só, saí às ruas aflito/

Sob efeito de um grito, medo ou sei lá o quê/

Sem entender, procurei meus amigos esquecidos/

Procurei o hospital e meio que sem jeito me disseram/

Que não tinha médico, que voltasse daqui a um mês e coisa e tal/

Sem conseguir leito, tão pouco respeito/

Tentava pela rua da capital/

Encontrar de novo a minha casa/

Mas a noite já estava acesa/

E essa caminhada me pareceu, mais do que um horror/

Pois eu, além de não enxergar, esquecia-me de tudo/

Parecia abandonado na selva do mundo/

Envolvi-me num imenso pavor/

Já não sabia voltar, já não conseguia escutar/

Qualquer canto escuro eram os meus muros/

Os ônibus passavam o telefone tocava e eu não sabia qual atitude tomar/

Eu só fazia relembrar/

Se não fosse a solidariedade, o amor e a maternidade/

Estaria sem lar/

Meu filho veio, abraçou-me e sorrindo/

Desvendou-me o mistério, ao chamar-me de idoso/

Como é que isso vai acontecendo com a gente/

A juventude é uma vaidade/

Lágrimas me vieram ao rosto/

Enquanto o pensamento me fazia refletir nesse mistério/

Ninguém está preparado para o velho/

Nem mesmo a sociedade/

Que sempre parece não ter idade/

Mas foi bom filho, te encontrar/

Assim tenho a certeza do meu lugar/