Tu

Tu, palavra outra que não eu

E ainda eu em ti a revogar imensamente tudo em nós

E a lançar ao infinito a proximidade eterna

De modo que sejamos nós o abismo

E o abismo seja para sempre tu

Tu, desejo da razão insensata e graça infinita do absurdo

Tu que és o quase em tudo

E eu a desvendar incansavelmente o tudo em nós

E incansavelmente a revogar o lirismo

E o lirismo, manso, é para sempre tu

Tu, aljava de sonhos vazia, mas de sonhos de outrora

E eu a recolher os sonhos lançados pelo mundo a fora

E tu a desfazer displicentemente o tudo em nós

Com uma displicência plena de cinismo

Num lamento cínico choras para sempre: tu

Tu, mãos que colhem, pés que correm

Expressão de minha alteridade

"Onde estarão nossos limites?

Onde és tu, quando eras eu?"

(E os teus pés ainda correm, como espíritos fogem

das fronteiras de nossa herdade)

Tu, eu em vós - palavra ressignificada em mim

E nós ainda a nos sentirmos irremediavelmente perdidos

Na proximidade eterna do infinito

Do abismo em vós

E o abismo para sempre nós

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 10/08/2015
Código do texto: T5341543
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