Mãe...
Escrevo-lhe esta carta em pedaços
Quem sabe, em versos...
Porque hoje seria meu aniversário
Mas neste mundo, reverso...
Nada é mais como antes...
 
Mãe, este dia tão vulgar
Já não faz sua voz um tom mais alta
Seus olhos em espanto brilhar...
Seu menino já não habita a mente que o amava
Seu menino hoje não mais está
Nem em você nem em nenhum lugar.
 

Não vou cantar parabéns
Porque perdido o sentido
Do cantar.
Mãe - abraça-me em sua dor
Seu nebuloso navegar...
E conduz-me para bem longe
De onde não quero estar.
 
Talvez um dia este vazio se amenize
E me seja dado aceitar o repetido crime
Que nos violenta incessante
Entre o dormir e o despertar...
 
Mas não será fácil, mãe...
Entender a violência sem  sua mão pequena
A reger sinfonias de esperança
A me fazer forte e acreditar...
 
Que sou o bambino feito homem
O mapa que desenhado com capricho
Conduz a mim mesmo ao tesouro...
 
Que não rebrilha oculto, fútil ouro
Mas que espera, na alma escondido
O grito feliz do menino
Feito homem e feito filho.

 
Descansa, mãe, eu velo seu sofrer
Em plácida tristeza e resistência...
Reza por mim, mãe...
Por minha essencial essência
E seja por mim, sempre
Na saúde e na doença.