CABEÇA DURA.
Tempo pode ser coado, ou atiçado
suas várias faces são artesãs fiéis
buscando sempre seu voo de misericórdia,
ou de estreia, tanto faz.
Tempo se congela num torpor de moleque,
deixa escapulir pelas suas anáguas de seda
o que esquecermos de arrumar
depois da algazarra toda.
Tempo é cabeça dura,
não tolera farsantes,
nem tampouco suores não convidados.
Seus olhos se fazem de bobos, se colocam em transe
só para rir da nossa cara de assustado.
Não conseguem acabar uma frase sem chorar,
são inaptos a acolher, a embalar, a amar.
Quem o conhece tira de letra suas ancas mal dormidas,
seu cheiro ainda imberbe um tanto tosco, por certo,
quem o faz íngreme talvez possa depor sem intimação,
quem o tem enviscerado, acertou na mosca.
Dos meus tempos já usados, poucos guardei de sobra.
Um dia ainda vou chamá-los todos e então verei quem sou de fato.
Meus tempos são prova viva de que estou por aqui,
que fui capaz de socorrer, apurar, ser o que fosse.
A todos eles o meu mais pontiagudo obrigado.
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