VAGANDO PELAS NOSSAS VEIAS

Amigo que não tinha dia olho torto,

nem ombro fechado pra reforma.

Quantas lágrimas me fez recuar,

quantas horas se fez Deus só pra mim

e mais ninguém.

Amigo que não pedia o saldo, nem troco,

tínhamos muito mais que o mesmo sangue

vagando pelas nossas veias.

Sabia dos meus nós, encalhes, encardidos

melhor que tudo.

Virava e revirava minha alma

sem mexer um dedo.

Olhava e tudo já estava dito, já estava bom.

Já tive saudade,

já tive raiva por ter ido sem dizer tchau antes.

Hoje entendo que não foi de vez.

Hoje percebo que esse negócio de morte é grão,

uma parte só que vira outra coisa,

sei lá.

O que é ouro nunca vira pó,

o que é voz nunca se cala,

o que é cheiro nunca some do palco,

o que é quente nunca vira lodo.

Passa o tempo, correndo como sempre faz.

As rugas vão se aconchegando sem pressa.

Num belo dia religamos nossas almas no mesmo cordel.

Assim, de mãos dadas, vamos retomar aquele chão,

vamos sim.

O que foi nosso nunca será de mais ninguém.

Que puta saudade do abraço do meu pai.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 09/08/2015
Reeditado em 09/08/2015
Código do texto: T5339909
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