O canto silencioso da lua atravessando o céu

O sol vai trespassando a ausência e a distância

entre solitárias sombras

se desprendendo do ar

mergulha lentamente no horizonte

e se cala

e aspira a ternura fragrante do céu

meus olhos a beber das cores que vão caindo

das esquinas

falam de saudades

extasiados e tontos de entardecer

A noite espera,

graciosamente nua,

envolvendo as casas e os ventos

Por entre a vegetação a noite se alteia

sagrada e simples

comovidos, os sinos tangem os céus

bimbalhando Ave Marias na semi-escuridão

alento para as vidas se esboroando

A lua, palmilhando folha a folha,

pedra a pedra,

estende-se languida nos telhados onde o barro

pode ser gente ou flor

Outra noite

O gesto e o passo envelhecem

Caminham os caminhos prosaicos

e monotonamente infindáveis

dos homens reclusos em suas certezas

e nos medos que não sabem partir

sorvendo nos próprios lábios o gosto travo

da solidão de existir

Escuto pelos vieses da noite

a rouquidão do silêncio

falando de mim mesmo

o choro dos galhos ao vento

o medo da flor úmida de sereno

esta fragilidade que não cessa

Na noite inextinguível

tardo a olhar o enigma

o tudo

e

o nada

ludicamente ouvindo

o canto silencioso da lua atravessando o céu