PLENAMENTE ORFÃ
Casamento é chaga, pena que dura tanto.De fora, pode até parecer lustroso, cheiroso, bonito até, visto lá no fim da linha. Mas de perto esbanja rebarbas, se diz flutuando quando, mesmo, está no maior atoleiro. Casamento precisa de vista grossa pra não parecer tosco, como de fato sempre será. Quem casa quer de fato um pretexto pra arrancar a casquinha de ferida bem na hora daquela coceirinha informando que sarou. É como se buscasse uma autorização para vomitar um gozo putrefato onde só danças as miçangas da dor. Casamento torra o saco, enxarca a paciência de fétidas chagas e nunca passará de uma voz falida e que só não foi deportada dez vez porque nem pra isso serviu. Casamento derrapa numa ignóbil aporrinhação, enerva até o que está morto e não reluz nada, só range e se trinca numa infinita algazarra encardida e plenamente órfã. e oca. Casamento será sempre um desafinado grito rasgado, um Sol que nunca se põe, uma maldição que renasce de si mesmo feito tumor pagão. Quem casa fica coalhado num porão empoeirado, infestado de ratazanas gordas e famintas, ao qual nunca haverá um filete de luz sequer. Certamente Deus encontrou uma forma perfeita para se vingar de toda maldade humana e de toda alma mesquinha que teima vagar por estas bandas. Assim fez o casamento sobreviver e, por certo, deve estar mais do que satisfeito com este troco à altura da nossa infinita mesquinharia do gostar, do ser, do compartilhar, do existir.